Reformulado, Índice de Desenvolvimento  Humano usa Renda Nacional Bruta em vez de PIB e apresenta novos  indicadores sobre educação
do PNUD
O Brasil é o 73º no ranking de 169 nações e territórios da nova versão  do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que passou por uma das  maiores reformulações desde que foi criado, há 20 anos. O índice  brasileiro, de 0,699, situa o país entre os de alto desenvolvimento  humano e é maior que a média mundial (0,624). Segundo o Relatório de  Desenvolvimento Humano, o resultado é parecido com o do conjunto de  países da América Latina e Caribe (0,704).
Em razão da mudança de metodologia, 
não se pode comparar o novo IDH com os índices divulgados em relatórios anteriores.  Mas seguindo a nova metodologia, em comparação com os dados  recalculados para 2009, o IDH do Brasil mostra uma evolução de quatro  posições. O documento, intitulado 
A verdadeira riqueza das nações: caminhos para o desenvolvimento humano, foi divulgado nesta quinta-feira em Nova York.
A lista é encabeçada pela Noruega (0,938), seguida de Austrália, Nova  Zelândia, Estados Unidos e Irlanda. A última posição é ocupada por  Zimbábue (0,140), superado por República Democrática do Congo, Níger,  Burundi e Moçambique. O Brasil está logo acima de Geórgia (74º),  Venezuela (75º), Armênia (76º) e Equador (77º), e abaixo de Ilhas  Maurício (72º), Macedônia (71º), Irã (70º), Ucrânia (69º) e  Bósnia-Herzegóvina (68º).
O índice manteve suas características principais — varia de 0 a 1  (quanto mais próximo de 1, maior o nível de desenvolvimento humano) e  engloba três aspectos essenciais do desenvolvimento humano: conhecimento  (medido por indicadores de educação), saúde (medida pela longevidade) e  padrão de vida digno (medido pela renda). Assim, conserva a premissa  que norteou sua criação em 1990: o progresso deve ser mensurado não  apenas pelo crescimento econômico, mas também por conquistas em saúde e  educação.
Para o 20º aniversário da publicação, foram introduzidas mudanças nos indicadores de renda e educação e no cálculo final (leia mais abaixo o texto “As mudanças na metodologia do IDH”).  A reformulação resultou em aprimoramento, mas implicou uma redução no  número de países e territórios abrangidos: 15 (incluindo Cuba, Omã e  Líbano) saíram da lista por não disporem de informações verificáveis  para pelo menos um dos quatro indicadores usados no índice.
Dos três subíndices que compõem o IDH, apenas o de longevidade não  passou por alterações: continua sendo medido pela expectativa de vida ao  nascer. No subíndice de renda, o PIB (Produto Interno Bruto) per capita  foi substituído pela Renda Nacional Bruta (RNB) per capita, que  contabiliza a renda conquistada pelos residentes de um país, incluindo  fluxos internacionais, como remessas vindas do exterior e ajuda  internacional, e excluindo a renda gerada no país, mas repatriada ao  exterior. Ou seja, a RNB traz um retrato mais preciso do bem-estar  econômico das pessoas de um país. No subíndice de educação, houve  mudanças nos dois indicadores. Sai a taxa de analfabetismo, entra a  média de anos de estudo da população adulta; para averiguar as condições  da população em idade escolar, em vez da taxa bruta de matrícula passa a  ser usado o número esperado de anos de estudos.
 
 
Evolução recente
Esta não é a primeira vez que o IDH passa por mudanças — a  disponibilidade de novos dados e as sugestões de alguns críticos fizeram  com que o índice se adaptasse ao longo das últimas duas décadas. Porém,  a fim de possibilitar que sejam verificadas tendências no  desenvolvimento humano, a equipe responsável pelo relatório usou a nova  metodologia não só para calcular o IDH de 2010, mas também o de 2009 e  de outros seis anos de referência: 1980, 1985, 1990, 1995, 2000 e 2005.  Para o Brasil, há dados completos desde 2000.
Desde aquele ano, o IDH brasileiro teve um ganho de 7,6% (73ª maior  variação numa lista de 137 países). O progresso foi mais rápido que o  latino-americano (6,6%) e mais lento que o global (9,3%). De 2005 para  cá, a alta foi de 3,1% (92º mais veloz em uma lista de 169 países e  territórios). De 2009 para 2010, o aumento foi de 0,8%, o 53º mais  elevado entre 169 países.
Na última década, a expectativa de vida dos brasileiros aumentou 2,7  anos, a média de escolaridade cresceu 1,7 ano e os anos de escolaridade  esperada recuaram em 0,8 ano. A renda nacional bruta teve alta de 27% no  período.
 
 
Em comparação com países que estavam em nível semelhante de  desenvolvimento em 2000 — os quatro logo acima e os quatro logo abaixo  no ranking do IDH —, o Brasil saiu-se como um dos melhores. Se há dez  anos era o quinto nesse grupo de nove nações, agora é o terceiro. O  grande salto, porém, foi da Ucrânia, que registrava índice semelhante ao  brasileiro em 2000, e em 2010 é o país com maior IDH desse conjunto.
 
 
As alterações foram pequenas para os países da América Latina ao longo  da última década. Chile, Argentina e Uruguai mantêm-se no topo do IDH  desse grupo, seguido de México e Peru. Bolívia e Paraguai ainda  registram os índices mais baixos. Nas posições intermediárias, estiveram  Colômbia, que acelerou menos entre 2000 e 2010, Equador, Venezuela e  Brasil. O indicador brasileiro era o sexto no início do período, chegou a  ser superado pelo venezuelano em 2009, mas neste ano voltou à sexta  colocação.
 
 
As mudanças na metodologia do IDH
Os pilares do IDH não foram alterados: o índice varia de 0 a 1 (quanto  mais próximo de 1, maior) e engloba três dimensões fundamentais do  desenvolvimento humano: conhecimento (mensurado por indicadores de  educação), saúde (medida pela longevidade) e padrão de vida digno  (medido pela renda). Mas houve modificação em alguns indicadores e no  cálculo final  do índice.
Subíndice de longevidade
Não mudou: continua sendo medido pela expectativa de vida ao nascer.
Subíndice de educação
É o único que engloba dois indicadores, e ambos foram alterados. Sai a  taxa de alfabetização, entra a média de anos de estudo da população  adulta (25 anos ou mais). Para averiguar as condições da população em  idade escolar, em vez de taxa bruta de matrícula passa a ser usado o  número esperado de anos de estudos (expectativa de vida escolar, ou  tempo que uma criança ficará matriculada, se os padrões atuais se  mantiverem ao longo de sua vida escolar). Essas alterações foram feitas  porque alguns países, sobretudo os do topo do IDH, haviam atingido  níveis elevados de matrícula bruta e alfabetização — assim, esses  indicadores vinham perdendo a capacidade de diferenciar o desempenho  dessas nações. Na avaliação do Relatório de Desenvolvimento Humano, as  novas variáveis captam melhor o conceito de educação e permitem  distinguir com mais precisão a situação dos países. No entanto, assim  como os indicadores anteriores, não consideram a qualidade da educação.  No método antigo, a taxa de analfabetismo tinha peso 2 nesse subíndice, e  a taxa de matrícula, peso 1. Agora, os dois novos indicadores têm peso  semelhante.
Subíndice de renda
O PIB (Produto Interno Bruto) per capita foi substituído pela Renda  Nacional Bruta (RNB) per capita, que abrange os mesmos fatores que o  PIB, mas também leva em conta recursos enviados ou recebidos do exterior  — é uma maneira de captar melhor as remessas vindas de imigrantes,  excluir da conta o envio de lucro para o exterior das empresas e  computar a verba de ajuda humanitária recebida pelo país, por exemplo.  Assim como na versão anterior usava-se o logaritmo natural do PIB per  capita, agora usa-se o logaritmo natural da renda. Também foi mantido o  modo como os valores são expressos: em dólar corrigido pela paridade do  poder de compra (PPC), que leva em conta a variação do custo de vida  entre os países.
Normalização dos subíndices
Para poder comparar indicadores diferentes (a renda é expressa em  dólares, a expectativa em anos, por exemplo), cada subíndice é  transformado numa escala de 0 a 1. Por isso, estabelece-se um valor  máximo e mínimo para cada indicador. Até o relatório do ano passado, os  níveis máximos eram fixados pelo próprio RDH; neste, foram usados os  valores máximos verificados na série de dados (desde 1980). Com isso  elimina-se a arbitrariedade na escolha desses níveis máximos e mínimos.
Atualização dos dados
Até o ano passado, o IDH sempre trabalhava com indicadores de dois anos  anteriores à publicação do relatório. O RDH 2009, portanto, trazia um  IDH que refletia a situação de 2007. No RDH 2010, são usados alguns  valores e projeções do próprio ano de 2010. Há dados disponíveis para  este ano referentes à expectativa de vida e à média de anos de estudo.  Para a renda nacional bruta, foram feitas estimativas aplicando-se os  dados mais recentes do Banco Mundial às projeções de crescimento feitas  pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). No número de anos esperados de  escolaridade, foi utilizado o dado mais recente disponível.
Cálculo
Até a edição de 2009, o IDH era calculado como a média simples dos três  subíndices (somava-se os três e dividia-se o resultado por três). A  partir deste relatório, recorre-se à média geométrica: multiplicam-se os  três subíndices e calcula-se a raiz cúbica do resultado (um número que,  multiplicado três vezes por ele mesmo, é igual ao resultado da  multiplicação). Antes, um desempenho baixo em uma dimensão poderia ser  diretamente compensado por um desempenho melhor em outra. Com o novo  cálculo, essa compensação perde força — um valor ruim em um dos  subíndices tem impacto maior em todo o índice. Além disso, a metodologia  permite que 1% de queda na expectativa de vida, por exemplo, tenha o  mesmo impacto que 1% de queda na renda ou na educação.
Nível de desenvolvimento humano
O Relatório de Desenvolvimento Humano deixa de classificar o nível de  desenvolvimento de acordo com valores fixos e passa a utilizar uma  classificação relativa. A lista de países é dividida em quatro partes  semelhantes. Os 25% com maior IDH são os de desenvolvimento humano muito  alto, o quartil seguinte representa os de alto desenvolvimento, o  terceiro grupo é o de médio e os 25% piores, os de baixo desenvolvimento  humano.
 
                     